Feminicídio, uma epidemia global
 
09Jul

Feminicídio, uma epidemia global

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Claudio Herique

 
Depois de três anos morando parcialmente na França, pela primeira vez passei pela experiência de ser atendido no pronto-socorro de um hospital público. Logo no guichê de atendimento, chamou minha atenção um cartaz informando o telefone do serviço público de denúncia para violência doméstica. Na sala de triagem, eis que o cartaz aparece novamente na minha frente, fato que se repetiu no consultório onde fui atendido. Pensei comigo: algo muito errado anda acontecendo por aqui também.
 
No dia seguinte, passo pela banca de jornal e me deparo com a seguinte manchete do “Le Monde”, jornal de maior circulação na França: “Feminicídios, uma urgência nacional”. O assunto foi a matéria de capa da edição dominical, com direito a editorial principal e reportagem de várias páginas. Não era uma simples coincidência. 
 
Na média dos últimos 10 anos, 140 francesas foram mortas no país por seus companheiros ou ex-companheiros. E as estatísticas do primeiro semestre deste ano apontam um crescimento significativo destes casos. Antes, uma mulher era morta a cada três dias. Neste ano, a cada dois dias. Apenas a título de comparação, em 2018 foram contabilizados 1.173 casos de feminicídio no Brasil, que tem uma população três vezes maior do que a do país europeu. Fazendo uma matemática simples, temos quase três vezes mais casos de feminicídio em nosso país.
 
A França já tem adotado há mais de 10 anos uma série de medidas para combater a violência contra a mulher e a violência doméstica. Somente em 2018, o país executou 3.332 ordens de proteção, com braceletes que impedem o agressor de chegar perto de uma determinada distância da vítima. O telefone de urgência grave, que uma vez acionado dispara a intervenção imediata da polícia, também registrou mais de 3 mil ocorrências atendidas. Uma larga publicidade na mídia e cartazes espalhados por todas as delegacias e unidades de atendimento médico divulgam estes programas. Mas nem isso parece ter sido suficiente para combater o problema, que se espalha por todo o continente europeu.
 
Segundo a Agência de Direitos Fundamentais da União Europeia, na média do continente uma em cada três mulheres já sofreu algum tipo de violência física ou sexual após os 15 anos de idade. Dinamarca (com 52% da população feminina), Finlândia (47%), Suécia (46%), Holanda (45%), França e Inglaterra (44%), encabeçam a lista dos países com mais casos de mulheres agredidas.
 
A violência contra a mulher é um fenômeno mundial, que cresce inexplicavelmente, mesmo nos países mais desenvolvidos, que apresentam índices globais de violência relativamente baixos. Isso me leva a crer que o feminicídio talvez seja a expressão maior da desigualdade de gênero entre homens e mulheres.
 
Os casos de feminicídio que acontecem em todo o planeta não são uma fatalidade. São frutos de um pensamento machista que em pleno século 21 ainda parece tolerar a ideia de que a mulher pode vir a ser propriedade de alguém. O mundo está doente. E algo precisa ser feito. Os homens de bem (de verdade) de todo o mundo precisam abraçar esta causa.


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