O comercial da Gillette que muitos homens não entenderam. Infelizmente.
 
16Jan

O comercial da Gillette que muitos homens não entenderam. Infelizmente.

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Claudio Herique

 

Nesta semana, a Gillette divulgou um comercial nas redes sociais em países de língua inglesa, que está causando muita controvérsia. Algumas vozes masculinas mais exaltadas falam até mesmo em “boicote” à marca, sob justificativa de que a peça publicitária não passa de ativismo radical feminista. Sob o título de “the best a man can get” (o melhor que um homem pode ter), a marca resgata seu slogan para agora questionar alguns comportamentos masculinos.
 
O filme de quase dois minutos aborda temas como bullying infantil, violência, assédio sexual, usando o termo “masculinidade tóxica” e imagens de garotos se atracando, homens assediando mulheres na rua e no ambiente de trabalho, entre outras. “É isso o melhor que um homem pode conseguir”, questiona? Se você ainda não assistiu ao vídeo, o link está aqui: https://youtu.be/2RIWPdM0KtY
 
Assisti ao vídeo muitas vezes antes de escrever este texto. E duvido muito que algum homem de bom senso possa apoiar as atitudes que são mostradas no filme ou dizer que elas não acontecem no cotidiano. Qual seria, então, a razão de tanta gritaria? O famoso apresentador britânico, Piers Morgan, disse em rede nacional que “as feministas adoraram, pois o filme pinta todos os homens como malvados”. O ator James Wood tuitou que “se os homens são horríveis, eu nunca mais usarei seu produto de novo”. E as manifestações masculinas contrárias à Gillette não param de se multiplicar nas redes sociais.
 
Infelizmente, não gostamos de falar sobre o machismo. Muitos de nós nem sabemos o que isso significa, acabamos reproduzindo comportamentos machistas sem sequer nos darmos conta disso. É difícil perceber o quanto o machismo está presente nas entranhas da sociedade. E quanto ele é nocivo para os próprios homens. Está na frente do nosso nariz, mas não enxergamos mesmo. Falo por mim. Precisei chegar aos 40 anos de idade e virar dono de casa para perceber o quanto eu era machista. E continuo brigando com o pequeno machista que ainda habita em mim todos os dias.
 
Aí, vem um comercial que mostra uma série de atitudes masculinas negativas, levanta temas discutidos pelo feminismo (muitos não compreendem que feminismo não é a luta contra os homens, mas pelos direitos das mulheres) e ainda por cima usa o termo “masculinidade tóxica” (não dá para negar que a conotação é agressiva mesmo) para definir tudo isso. Bum! Uma mistura explosiva. E uma ótima desculpa para se dizer “ah, mas as mulheres também fazem coisas erradas”. Claro, somos todos humanos. Mas porquê é tão difícil compreender que o comercial fala exclusivamente sobre os homens e para os próprios homens?
 
Vale aqui um raciocínio lógico: se os homens ainda são dominantes na sociedade e temos tantos problemas para resolver, faz sentido pensar que os homens também são causadores de uma boa parte dos problemas. Então, nada mais justo do que façam parte da solução. Isso exige uma mudança de atitude. Será que “boys will be boys”? (meninos serão sempre meninos? - um dos questionamentos do filme). A peça não prega que todos os homens são ruins. Apenas mostra que podemos fazer melhor, nos desafia a sermos seres humanos melhores do que temos sido.
 
Toda essa conversa sobre machismo, feminismo, é muito complexa, ainda mais nos tempos atuais onde ainda tem gente discutindo se meninos devem vestir azul e meninas rosa. Não dá para definir tudo isso em apenas dois minutos, ainda mais num filme publicitário. Mas o grande mérito dele é de provocar uma grande reflexão. Mesmo que alguns clientes possam ficar pelo caminho.
 

Melhor mesmo foi ver o posicionamento da Gillette quando questionada a respeito das manifestações masculinas contrárias ao comercial. “Nosso slogan precisa continuar inspirando todos nós a sermos melhores todos os dias. Precisamos criar um novo padrão a ser admirado pelos garotos e que deve ser uma meta a ser atingida pelos homens”, disse o comunicado da empresa. “Todos temos muito trabalho pela frente. E tudo isso começa hoje”. 


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