A mulher moderna assusta os homens?
 
09Jan

A mulher moderna assusta os homens?

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Claudio Herique

 

 

Passeando pela internet, um artigo me chamou a atenção: “A incrível geração de mulheres que foi criada para ser tudo que um homem NÃO quer” (a grafia do não com letras maiúsculas era proposital). Esse texto, super interessante, coloca com muita clareza alguns dos dilemas da mulher moderna. Como “Macho do Século XXI”, me senti movido a comentá-lo por aqui, e claro, fazer minhas reflexões. 
 
A tese principal da autora (a advogada e professora universitária, Ruth Manus), com a qual concordo plenamente, é de que as novas gerações de mulheres são criadas para serem completamente independentes. Elas estudam, trabalham, ocupam cargos de destaque na sociedade, enfim, foram educadas para ganhar o mundo. Entretanto, na opinião dela, a sociedade ainda vende a figura da mulher como sendo aquela que tem que se ocupar da casa e dos filhos. Ela ainda tem que viver em função da família. E é isso que os homens esperam das mulheres. Eles não foram criados para querer essa mulher independente e segura. Daí a dificuldade de conviver com mulheres que “voam”.  
 
Não concordo totalmente com esse julgamento da Ruth Manus sobre o comportamento masculino diante dessa mulher. Talvez muitos homens ainda sejam assim, mas antes de fazer meu comentário, vou citar dois trechos do texto dela. O primeiro é aquele onde ela menciona que as mulheres procuram “um companheiro, lado a lado, de igual para igual (...) Somos a geração da parceria, não da dependência”.
 
A Ruth conclui o texto dizendo que “nós (as mulheres) não vamos andar para trás. Então vai ser essa mentalidade que vai ter que andar para a frente. Nós já nos abrimos para ganhar o mundo. Agora é o mundo que tem que se virar para ganhar a gente de volta”. Concordo, Ruth, mas enquanto o mundo não resolver se mexer, as mulheres vão sofrer um bocado. E me permito dar uma minha visão masculina sobre esse tema.  
 
Em nenhum momento a autora fala da alma feminina. Daquelas características que nós, os homens, gostamos tanto: a delicadeza, o charme, o carinho, o afeto que existe dentro de todas as mulheres. Ela fala o tempo todo em procura de um parceiro, mas não cita em nenhum momento a palavra amor. Ganhar o mundo virou uma meta importantíssima, mas não creio que as mulheres precisam deixar de lado essas características femininas e o romantismo. Mas será que na prática é isso que acontece?
 
Como a Ruth menciona que por ser uma mulher que gosta de “cerveja, uísque, futebol e UFC”, ela ainda está na “luta” para encontrar um parceiro, vou tomar a liberdade de mencionar uma conversa que tive com uma amiga de longa data, desquitada, e que vai ajudar a ilustrar meu ponto de vista. Dizendo estar cansada de procurar um parceiro, ela me contou algumas das suas experiências e descreveu como ela avaliava seus potenciais namorados. Ouvindo-a com atenção, cheguei à conclusão que as mulheres não se apaixonam mais – elas fazem uma entrevista de emprego. No caso, a vaga a ser preenchida é a de namorado, com um plano de carreira prevendo a evolução para o cargo de marido.
 
Claro que a premissa básica era de procurar um cara bacana, de preferência bonito (isso não era essencial), educado, viajado, com um emprego estável. Atendendo aos pré-requisitos básicos, minha amiga precisava saber se o candidato estava preparado para “encarar” uma mulher moderna, com todos os desafios que isso possa representar para ele. O moço precisava saber, por exemplo, que ela não tinha muito saco para dar satisfação e adorava sua liberdade, gostava de sair com as amigas e voltar tarde, preferia jantar fora do que preparar o jantar e que, principalmente, não haveria menor disposição para lavar suas cuecas.
 
Se o candidato passasse na primeira fase da entrevista (pois é, esse processo seletivo é bem complexo), então ela precisava saber se ele tinha uma carreira tão atribulada quanto a dela e, em caso positivo, se ele estaria disposto a compartilhar as eventuais responsabilidades e afazeres da criação dos filhos, por exemplo. Cozinhar, lavar pratos, arrumar a cama, contavam pontos altíssimos na avaliação.
 
À medida que ela descrevia o duríssimo processo de seleção, eu me perguntava: e a paixão, o tesão, onde ficam? “Claro que eles acontecem”, foi a resposta que ela me daria mais à frente. Essa é uma outra avaliação, que ocorre geralmente em paralelo às outras duas primeiras etapas já descritas. Mesmo que o candidato vá muito bem nesse quesito, se for reprovado nas etapas anteriores, a resposta é: “melhor parar, antes que eu me envolva de verdade. Já sei que não vai dar certo lá na frente”.
 
Confesso que me assustei com a resposta, mas talvez minha amiga esteja correta, embora as consequências desse processo sejam bem claras. A primeira é que ela dificilmente vai encontrar o “candidato” perfeito. A segunda é que ela esquece que do outro lado também há expectativas e sentimentos. Que talvez esse homem pudesse não ser apenas o “parceiro” que ela procurava, mas ser aquele que daria a ela amor e carinho. A partir daí, eles poderiam tentar traçar objetivos em comum.
 
Eu ainda acredito que as pessoas se apaixonam. Simplesmente assim. Eu concordo que a vida moderna nos leva a procurar “parceiros” – viver com alguém, ter uma família, requer não só uma parceria, mas comprometimento. Mas o amor e a paixão sempre terão seu espaço nesses relacionamentos. Do contrário, eles não sobrevivem. Não acredito na tese de que os homens têm medo ou não foram educados para viver com mulheres independentes e bem sucedidas. Talvez eles tenham medo de mulheres que coloquem sua independência e seus objetivos pessoais acima de qualquer coisa.  
 
Ruth, você está certa. As mulheres não devem andar para trás. Nunca. O espaço conquistado nas últimas décadas exigiu muito suor e sofrimento. E ainda há muito a fazer. Por isso, elas podem contar sempre com o meu inequívoco e irrestrito apoio. Mas se puderem ouvir meu humilde conselho, não esqueçam de ser mulheres, com todas as características que as fazem serem tão especiais.
 
Para ler o texto da Ruth Manus, que foi publicado originalmente no blog da autora hospedado no site do Estadão, basta clicar no link: http://vida-estilo.estadao.com.br/blogs/ruth-manus/a-incrivel-geracao-de-mulheres-que-foi-criada-para-ser-tudo-o-que-um-homem-nao-quer/


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